Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

3 de maio de 2013

Não: não pedi amor nem amizade : Fernando Pessoa

Não: não pedi amor nem amizade
      Às almas nem à vida;
Pedi-os à ilusão, à saudade,
      E a uma ‘sp’rança perdida.

O que me deram não compensa o nada
      Do que a vida me deu;
Mas, como a um pobre, o que me deu pousada
      Deu-me um pouco do céu.

Perdi já tudo: o que negou o que é
      E o que o sonho me dera...
Sou hoje o sol que vagueia a pé
      Entre o que foi e o que era.

Hoje, descrente até do que não há,
      Vagueio em mim sem mim,
E tudo o que sonhei é um deus que ‘stá
      Guardando a treva e o fim.


Fernando Pessoa
(Portugal 1888-1935)
“in Poesia 1918-1930”

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