Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

25 de maio de 2013

Regra de vida : Fernando Pessoa


       Seguindo o critério rigoroso dos ocultistas, mas
aplicando-a fora de exacta conformidade entre
os planos, alguns têm sustentado que em todos esses
planos se deve aplicar a regra de Faz o que Queres.
Mas este «que queres» implica o conhecimento
preliminar de Vera Vontade.
       No animal, que é todo instinto, substancialmente,
e em quem a Vera Vontade é a vontade do instinto, a
vida dos dois instintos, de conservação e de reprodução
representa, deveras, a verdadeira vida de vontade.
Mas isso não é preciso ensinar aos animais.
       No homem superior, isto é, no homem criador,
também a vontade vera está clara no seu destino
de criador, se bem que os obstáculos adquiridos
na passagem pelo simples homem continuamente
perturbem a expressão, e até a descoberta, da
simples vontade sua.
       No homem vulgar, porém, Faz o que Queres
não significa a mesma coisa, por isso que o
homem vulgar é uma individualidade superior
infantil, e as crianças não têm Vera Vontade.
Dizer, portanto, ao homem vulgar que faça o
que é por ele em geral interpretado como
que faça o que lhe agrada, sem atenção
aos outros, nem escrúpulo moral para
consigo mesmo. Ora isto está errado.
A verdadeira vontade


Fernando Pessoa
Portugal 1888-1935
in Prosa Íntima e de Autoconhecimento
(Reflexões pessoais)
Edição Rui Zenith
Edit. Assirio & Alvim
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