Fiquei doido, fiquei tonto…
Meus beijos foram sem conto,
Apertei-a contra mim,
Aconcheguei-a em meus braços…
Fiquei tonto e foi assim…
Sua boca sabe a flores,
Bonequinha, meus amores,
Minha boneca que tem
Bracinhos para enlaçar-me,
E tantos beijos p’ra dar-me
Quantos eu lhe dou também.
Ah que tontura e que fogo!
Se estou perto dela, é logo
Uma pressa em meu olhar,
Uma música em minha alma,
Perdida de toda a calma,
E eu sem a querer achar.
Dá-me beijos, dá-me tantos
Que, enleado nos teus encantos,
Preso nos braços teus,
Eu não sinta a própria vida,
Nem minha alma, ave perdida
No azul-amor dos teu céus.
Não descanso, não projecto
Nada certo, sempre inquieto
Quando te não beijo, amor,
Por te beijar, e se beijo
Por não me encher o desejo
Nem o meu beijo melhor.
Fernando Pessoa
(Portugal 1888-1935)
“in Poesia 1918-1930”
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