Posso
amar tanto louras como morenas,
A
que cede à abundância e a que trai por pobreza,
A
que busca a solidão e a que se mascara e brinca,
Aquela
que o campo cultivou e a da cidade,
A
que acredita, e a que hesita,
A
que ainda lacrimeja com olhos esponjosos,
E
a rolha seca que nunca chora.
Eu
posso amar essa e esta, e tu, e tu,
Posso
amar qualquer uma, desde que não seja leal.
Nenhum
outro vício vos satisfará?
Não
vos será útil fazer como as vossas mães?
Ou,
gastos todos os velhos vícios, inventaram novos?
Ou
atormenta-vos o medo de que os homens sejam fiéis?
Oh,
não o somos, não o sejais vós também,
Deixai-me
conhecer, eu e vós, mais de vinte.
Roubem-me,
mas não me prendam, deixai-me ir.
Devo
eu, que vim a estas dores através de vós
Tornar-me
vosso fiel súbdito, porque sois leais?
Vénus
ouviu-me suspirar esta canção,
E
pela maior doçura do amor, a variedade, jurou
Que
a não ouvira até então, e não mais seria assim.
E
foi-se, investigou, e depressa regressando
Disse:
«Enfim, existem umas duas ou três
Pobres
heréticas do amor
Que
pretendem instaurar a perigosa constância.
Mas
eu disse-lhes: Dado que pretendeis ser leais,
Sereis
leais para com aqueles que vos sejam falsos.»
John
Donne
(England
1572-1631)
in "Poemas Eróticos" Trad. Helena
Barbas
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