Ó doce perspicácia dos sentidos!
Visão mais táctil que apressados dedos
sempre na treva tropeçando em medos
que só o olfacto os ouve definidos!
Audível sexo, corpos repetidos,
gosto salgado em curvas sem segredos
a que outras acres e secretas - ledos,
tranquilos, finos ásperos rangidos -
se ligam, mancha a mancha, lentamente...
Perfume Túrgido, macio, tépido,
sequioso de mão gélida e tremente...
Vago arrepio que se escoa lépido
por sobre os tensos corpos tão fingidios...
Ó doce perspicácia dos sentidos!
Jorge de Sena
Portugal 1919-1978
in Antologia Poética – Guimarães Editores
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