
Hálitos de lilás, de violeta e d'opala,
Roxas macerações de dor e d'agonia,
O campo, anoitecendo e adormecendo, exala...
Triste, canta uma voz na síncope do dia:
Alguém de mim se não lembra
Nas terras d'além do mar...
Ó Morte, dava-te a vida,
Se tu lha fosses levar!...
Nas terras d'além do mar...
Ó Morte, dava-te a vida,
Se tu lha fosses levar!...
Ó Morte, dava-te a vida,
Se tu lha fosses levar!...
Com o beijo do sol na face cadavérica,
Beijo que a morte esvai em palidez algente,
Eis a Lua a boiar sonâmbula e quimérica...
Doce canta uma voz melancolicamente:
Beijo que a morte esvai em palidez algente,
Eis a Lua a boiar sonâmbula e quimérica...
Doce canta uma voz melancolicamente:
O meu amor escondi-o
Numa cova ao pé do mar...
Morre o amor, vive a saudade...
Morre o sol, olha o luar!...
Numa cova ao pé do mar...
Morre o amor, vive a saudade...
Morre o sol, olha o luar!...
Morre
o amor, vive a saudade...
Morre o Sol, olha o luar!...
Morre o Sol, olha o luar!...
Latescente a neblina opálica flutua,
Diluindo, evaporando os montes de granito
Em colossos de sonho, extasiados de Lua...
Diluindo, evaporando os montes de granito
Em colossos de sonho, extasiados de Lua...
Flébil, chora uma voz no letargo infinito:
Quem dá ais, ó rouxinol,
Lá para as bandas do mar?...
É o meu amor que na cova
Leva as noites a chorar!...
Lá para as bandas do mar?...
É o meu amor que na cova
Leva as noites a chorar!...
A Lua enorme, a Lua argêntea, a Lua calma,
Imponderalizou a natureza inteira,
Descondensou-a em fluido e embebeceu-a em alma...
Triste expira uma voz na canção derradeira:
Ó meu amor, dorme, dorme
Na areia fina do mar,
Que em antes da estrela d'alva
Contigo me irei deitar!...
Na areia fina do mar,
Que em antes da estrela d'alva
Contigo me irei deitar!...
Que em antes da estrela d'alva
Contigo me irei deitar!...
Guerra Junqueiro
Portugal 1850-1923
in Os Simples
Editor: Lello Editores
photo by Google
Sem comentários:
Enviar um comentário