O desejo aparece de repente,
em qualquer sítio, propósito de nada.
Na cozinha, caminhando pela rua.
Basta um olhar, um aceno, um roçar.
Mas dois corpos
têm também o seu amanhecer e o seu acaso,
a sua rotina de amor e de sonhos,
de gestos sabidos até ao cansaço.
Dispensam-se os risos, deforman-se.
Há cinzas nas bocas
e o íntimo desdém.
Dois corpos têm a sua vida
e a sua morte um frente ao outro.
Basta o silêncio.
Maria Mercedes Carranza
(Colômbia 1945-2003)
in Um país que sonha - Cem anos poesia colombiana
Assirio & Alvim
Sem comentários:
Enviar um comentário