Adeus
tranças cor de ouro,
Adeus
peito cor de neve!
Adeus
cofre onde estar deve
Escondido
o meu tesouro!
Adeus
bonina, adeus lírio
Do
meu exílio de abrolhos!
Adeus,
ó luz dos meus olhos
E
meu tão doce martírio!
Adeus
meu amor-perfeito,
Adeus
tesouro escondido,
E
de guardado, perdido
No
mais íntimo do peito.
Desfeito
sonho dourado,
Nuvem
desfeita de incenso
Em
quem dormindo só penso,
Em
quem só penso acordado!
Visão,
sim, mas visão linda,
Sonho
meu desvanecido!
Meu
paraíso perdido
Que
de longe adoro ainda!
Nuvem
que ao sopro da aragem
Voou
nas asas de prata,
Mas
no lago que a retrata
Deixou
esculpida a imagem!
Rosa
de amor desfolhada
Que
n'alma deixou o aroma,
Como
o deixa na redoma
Fina
essência evaporada!
Gota
de orvalho que o vento
Levou
do cálix das flores,
Curto
abril dos meus amores,
Primavera
de um momento!
Adeus
Sol, que me alumia
Pelas
ondas do oceano
Desta
vida, deste engano,
Deste
sonho de um só dia!
No
mesmo arbusto onde o ninho
Teceu
a ave inocente,
Se
volta a quadra inclemente,
Acha
abrigo o passarinho;
Mas
eu nesta soledade
Quando
em meus sonhos te estreito
Rosto
a rosto, peito a peito,
Acordo
e acho a saudade!
Adeus
pois morte! adeus vida!
Adeus
infortúnio e sorte!
Adeus
estrela-do-norte!
Adeus
bússola perdida!
João
de Deus
Portugal
1830-1896
in 'Campo de Flores'
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