Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

2 de junho de 2013

Quando o sol declinava : Ibn Safar Al-Marini


Quando o sol declinava,
já quase a desaparecer,
fixei-a nos olhos
para que não deixasse de cumprir
a promessa de visitar-me como um sol,
no momento em que a lua, por entre as trevas,
inicia a viagem nocturna.

E veio, então, como a claridade da aurora
a abrir caminho por entre as trevas.

Perfumavam-se os horizontes à minha volta,
anunciando a sua chegada
como o aroma anuncia a flor.

Recorri com beijos a marca dos seus passos
como recorre o leitor as letras de uma linha.

E com ela passei a noite, enquanto a noite
mais ao longe dormia,
e o amor despertava
por entre os ramos do seu tronco,
a duna das suas ancas,
a lua da sua face...

E umas vezes a abraçava,
e outras vezes a beijava,
até que veio separar-nos
o estandarte da madrugada.


Ibn Safar Al-Marini
(Al –Andalus Séc. XII)
in Os dias do Amor
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