Olhos negros, que da alma sois senhores
Duvido com razão desse atributo,
Que é muito, que quem mata, traga o luto,
E é muito ver na noite resplendores.
Se de negros, meus olhos, tendes cores,
Como as almas vos dão hoje tributo,
Quem viu que os negros com rigor astuto
Os brancos prendam com grilhões traidores.
Mas ah, que foi discreta providência
O fazê-los da cor da minha sorte,
Por não sentir rigor tão desabrido.
Para que veja assim toda a prudência
Que foi prodígio grande, e pasmo forte,
Em duas noites ver o Sol partido.
Francisco
de Vasconcelos (Coutinho)
Portugal
1665-1723
in
Poemas de Amor
Antologia
de Poesia Portuguesa
Org:
Inês Pedrosa
Editor:
Publicações D. Quixote
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