Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

2 de julho de 2013

A Mary: John Clare





















Estou contigo em toda a parte,
apesar de aqui não estares,
encho os braços de pensar-te,
e cinjo apenas os ares.
Teus olhos fitam os meus,
quando mais eu não te via;
meus lábios tocam os teus,
dia e noite, noite e dia.

De outras coisas penso e falo,
sossego o espírito assim.
Mas a memória não calo
de um amor que não tem fim.
O escondo aos olhos do mundo,
e o contrário penso e digo,
nas brisas do céu profundos
segredam de ti comigo.

Segreda o vento nocturno,
o luar dá-me no rosto;
um peso de horror soturno
por toda a parte está posto.
Nas moitas brisas sussurram,
o orvalho cai do arvoredo –
e, suspirando, murmuram
a vida que te concedo.


John Clare
England 1793-1864
in Os dias do Amor
photo by Google

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