Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

9 de julho de 2013

À noite na cama: Clarice Lispector


   
  «À noite na cama Constança aproximava-se,
colava-se rente ao corpo quente de Henrique, tocava-lhe no peito liso
nas ancas magras, no púbis grande e largo, até o acordar e rebolarem
juntos nos lençóis revolvidos pelo sono.
        Era o lugar de que esteio? As ancas estreitas e duras, aquele
olhar sem piedade nem remédio que o escuro do quarto devorava
mas ela conhecia tão bem; tão perto da maldade.
        Às vezes acordava de madrugada e ficava horas debruçada
sobre ele, a respirar-lhe o cheiro. A beber-lhe o hálito. A lamber-lhe
os ombros até ele acordar e a abraçar, entrar nela e se virem os dois
ao mesmo tempo.
        Numa pressa.
            Num desatino.
               Encharcados em suor.»

Clarice Lispector
Ucrânia 1920 - Brasil 1977
in A Paixão segundo G. H.                                (Excerto)
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