Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

2 de julho de 2013

Olhos Traidores: Pedro António Joaquim Correia Garção


Amor, que mil ciladas me traçava
Lá detrás duma verde gelosia,
Com uns pequenos olhos me feria,
Com que os sentidos todos me assaltava.

Mal retiniu a flecha, que voava,
Já roto o pobre coração sentia;
E o sangue que das veias me corria,
Com lágrimas ardentes misturava.

Em vão fugir procuro, em vão desejo
Arrancar da ferida os passadores;
Cravados dentro n'alma me ficaram.

E desde então que sempre os olhos vejo,
Esses olhos pequenos, e traidores,
Que para me matar, me não mataram.


Pedro António Joaquim Correia Garção
(Portugal 1724-1772)
in Obra poética vol.1
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