Amor, que mil ciladas me traçava
Lá detrás duma verde gelosia,
Com uns pequenos olhos me feria,
Com que os sentidos todos me assaltava.
Mal retiniu a flecha, que voava,
Já roto o pobre coração sentia;
E o sangue que das veias me corria,
Com lágrimas ardentes misturava.
Em vão fugir procuro, em vão desejo
Arrancar da ferida os passadores;
Cravados dentro n'alma me ficaram.
E desde então que sempre os olhos vejo,
Esses olhos pequenos, e traidores,
Que para me matar, me não mataram.
Pedro António Joaquim Correia Garção
(Portugal 1724-1772)
in Obra poética vol.1
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