Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

28 de novembro de 2012

Há certa gente que amamos: Fernando Pessoa



Há certa gente que amamos
Porque não é o que é,
Porque nela recordamos
Qualquer coisa, vida ou fé,
Que nos ficou de um passado
Entre esquecê-lo lembrado.


Teus olhos azuis e baços,
Teu frágil corpo inteiro,
Não pedem talvez meus braços,
Mas pedem-me o amor inteiro,
Sinto que ter-te seria
Regressar a um outro dia


Manobras da sensação?
Que sei de ti ou de mim?
Mas dói-me o coração
Qualquer coisa, a ti afim,
Que conheci e perdi,   
Que vivi porque vivi.


Fernando Pessoa  in Poemas
(Portugal 1888-1935)

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