Amor de minha carne, viva morte:
espero em vão tua palavra escrita,
penso com a flor já seca, na desdita,
que se vivo sem mim, que importa a sorte?
O ar em torno é imortal. A pedra, inerte,
a sombra, não conhece, nem a evita.
Coração sem, ninguém, não necessita
o mel gelado que a alta lua verte.
Eu te sofri, rasguei as minhas penas;
tigre e pomba envolvi tua cintura
num duelo de carícias a açucenas.
Enche pois de palavras tal loucura,
ou deixa-me viver minha serena
noite de mágoa para sempre escura.
Federico Garcia Lorca
(Espanha 1899-1936)
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