1.
Perfeito é o silêncio
deste dia dourado.
Sob velhos carvalhos
Apareces, Élis, imagem
de paz com olhos redondos.
O seu azul espelha o
sono dos amantes.
Na tua boca
Emudeceram os seus
suspiros rosados
À noitinha o pescador
puxou as pesadas redes.
Um bom pastor
Leva o rebanho pela
orla da floresta.
Oh, que justos são,
Élis, todos os teus dias!
Leve desce
Por muros desolados o
silêncio azul da oliveira,
Morre o sombrio canto
de um ancião.
Uma barca de ouro
Baloiça, Élis, o teu
coração na solidão do céu.
2.
Um suave toque de sinos
ecoa no peito de Élis
À noitinha,
Quando a sua cabeça se
afunda na almofada negra.
Um veado azul
Sangra baixinho no mato
de espinhos.
Uma árvore castanha
ergue-se solitária;
Caíram dela os seus
frutos azuis.
Sinais e estrelas
Afundam-se de mansinho
no lago da tarde.
Para lá da colina
chegou o inverno.
Pombas azuis
Bebem de noite o suor
gelado
Que corre na fonte
cristalina de Élis.
Eternamente, ressoa
Nos muros negros o
vento solitário de Deus.
Georg Trakl
Áustria, Salzburgo 1887
– Cracóvia 1914
in Outono Transfigurado
Trad. João Barrento
in Rosa do Mundo – 2001
poemas para o futuro
Editor: Assirio &
Alvim
photo by Google
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