Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

6 de janeiro de 2014

Amante agradecido ás delícias mentirosas de um sonho: Francisco Quevedo

     Ai, Floralva! Sonhei... Devo dizê-lo?
Sim, pois que o sonho foi: que te gozava.
     Quem, senão um amante que sonhava,
juntara a tanto inferno um céu tão belo?
     Meu fogo com a tua neve e o teu gelo
- flechas que opostas tem na sua aljava -
juntava Amor, e honesto ele as juntava,
qual a minha adoração em seu desvelo.
     Disse eu: "Queria o amor e minha sorte
que não durma eu jamais, se estar desperto;
se durmo, siga o sono, de tão forte."
     Mas despertei do doce desconcerto;
e vi que vivo estive com a morte,
e morto estava com a vida, é certo.

Francisco Quevedo
Espanha 1580-1645
in Antologia Poética - Assirio & Alvim
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