Tenho-te
só para mim, sem saber quem és,
Incondicionalmente,
mesmo que nada acordado,
Mesmo que
só agora, assim que te conheci,
Como queres,
como pedes, como eu quero, como gemes,
Como esqueces
e insinuas um outro “nós”, que não este,
Queimando
etapas, preliminares, pressupostos,
Gozando cada
subversão, cada dogma, cada proibição,
Subindo,
descendo, percorrendo letras, palavras, frases,
Entrando,
percorrendo a tua invisível satisfação no escuro,
Agarrando,
observando, segurando, possuindo, latejando
Como se
o mundo estivesse nestas mãos,
O desejo
libertando-se, brilhando, claro como a lucidez de todos os momentos,
Mesmo com
a tua imensa vertigem ácida,
Que te
faz esquecer a desolação de amanhã,
Queimando-se
nos estilhaços esquecidos que fizeram esta noite.
Uso-te, sabendo que me usas, mesmo sem saber
quem és.
Daniel
Costa-Lourenço "in Heróis - Chiado
Editora"
Portugal
1976
photo by
Google "Poema cedido
por: Hugo Oliveira"
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