Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

19 de janeiro de 2014

Sem tudo saber: Daniel Costa-Lourenço



Tenho-te só para mim, sem saber quem és,
Incondicionalmente, mesmo que nada acordado,
Mesmo que só agora, assim que te conheci,
Como queres, como pedes, como eu quero, como gemes,
Como esqueces e insinuas um outro “nós”, que não este,
Queimando etapas, preliminares, pressupostos,
Gozando cada subversão, cada dogma, cada proibição,
Subindo, descendo, percorrendo letras, palavras, frases,
Entrando, percorrendo a tua invisível satisfação no escuro,
Agarrando, observando, segurando, possuindo, latejando
Como se o mundo estivesse nestas mãos,
O desejo libertando-se, brilhando, claro como a lucidez de todos os momentos,
Mesmo com a tua imensa vertigem ácida,
Que te faz esquecer a desolação de amanhã,
Queimando-se nos estilhaços esquecidos que fizeram esta noite.

Uso-te, sabendo que me usas, mesmo sem saber quem és.


Daniel Costa-Lourenço   "in Heróis - Chiado Editora"
Portugal 1976
photo by Google                       "Poema cedido por: Hugo Oliveira"


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