Voai ternos suspiros,
Ide
contar a Márcia quais tormentos
Sofre
minha alma aqui nestes retiros.
Suspiros lacrimosos,
Enchei-lhe
de piedade os seus ouvidos,
Arrancai-lhe
do peito mil gemidos;
Dizei-lhe
que, cercado de agonia,
Vivo
aqui nesta serra escura e fria.
Acompanhai
meus ais, olhos saudosos,
Vertei
copiosas lágrimas, vertei.
Estes
amenos prados deleitosos
Agora humedecei.
Oh flores delicadas,
Do
meu saudoso pranto rociadas!
Se para vos colher
Nalguma
madrugada aqui vier
Essa
formosa ninfa, que me adora,
Dizei-lhe
que o orvalho, cristalino
Não é de roxa aurora,
É dos olhos de Olino;
Dizei-lhe, claras fontes,
Que as águas dêstes montes
Vossa
clara corrente não turbou;
Mas
que foram as lágrimas, que a dor
Dos olhos arrancou
Ao seu fiel pastor
(…)
José
Anastácio da Cunha
Portugal
1744-1787
in Obras completas
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