Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

13 de janeiro de 2014

Recordações dum objecto ausente: José Anastácio da Cunha

       Voai ternos suspiros,
Voai nas asas dos ligeiros ventos;
Ide contar a Márcia quais tormentos
Sofre minha alma aqui nestes retiros.
       Suspiros lacrimosos,
Enchei-lhe de piedade os seus ouvidos,
Arrancai-lhe do peito mil gemidos;
Dizei-lhe que, cercado de agonia,
Vivo aqui nesta serra escura e fria.

Acompanhai meus ais, olhos saudosos,
Vertei copiosas lágrimas, vertei.
Estes amenos prados deleitosos
       Agora humedecei.
       Oh flores delicadas,
Do meu saudoso pranto rociadas!
       Se para vos colher
Nalguma madrugada aqui vier
Essa formosa ninfa, que me adora,
Dizei-lhe que o orvalho, cristalino
       Não é de roxa aurora,
       É dos olhos de Olino;
       Dizei-lhe, claras fontes,
       Que as águas dêstes montes
Vossa clara corrente não turbou;
Mas que foram as lágrimas, que a dor
       Dos olhos arrancou
       Ao seu fiel pastor
(…)


José Anastácio da Cunha
Portugal 1744-1787
in Obras completas
photo by Google

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