Um firme coração posto em ventura,
Um desejar honesto, que s’enjeite
De vossa condição, sem que respeite
A meu tão puro amor, a fé tão pura;
Um ver-vos, de piedade e de brandura
Imagem sempre, faz-me que suspeite
Qu’alguma brava fera vos deu leite,
Ou que naceste d’ua pedra dura.
Ando buscando causa que desculpe
Crueza tão estranha; porém, quanto
Nisso trabalho mais, mais mal me trata,
Donde vem que não há quem nos não culpe:
A vós, porque matais quem vos quer tanto;
A mim, que tanto quero a quem me mata.
Diogo Bernardes
(Portugal 1520-1605)
in Os dias do Amor
Editor: Ministério dos Livros
photo by Google
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