dizem que a paixão o
conheceu
mas hoje vive escondido
nuns óculos escuros
senta-se no estremecer
da noite enumera
o que lhe sobejou do
adolescente rosto
turvo pela ligeira
náusea da velhice
conhece a solidão de
quem permanece acordado
quase sempre estendido
ao lado do sono
pressente o suave
esvoaçar da idade
ergue-se para o espelho
que lhe devolve um
sorriso tamanho do medo
dizem que vive na
transparência do sonho
à beira-mar envelheceu
vagarosamente
sem que nenhuma ternura
nenhuma alegria
nenhum ofício cantante
o tenha convencido a
permanecer entre os vivos
Al Berto
Portugal, Coimbra 1948
– Lisboa 1997
in O Medo
Editor: Assirio &
Alvim
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