O pobre moiro
enamorou-se
De Ely, moça cristã,
sendo filho do Emir...
Tamanha dor sentiu, que
o mísero exilou-se,
Como se alguém pudesse
à própria dor fugir!
Longe, na terra alheia,
abrasa-lhe a memória
A imagem da mulher que
a vida lhe prendeu,
Vendo-a morta, a sorrir
sob um nimbo de glória,
Mas no esplendor de um
céu que nem mesmo era o seu...
Por sua vez, Ely nunca
pôde esquecê-lo,
E nesse imenso amor,
com presságios de agoiro,
Sentia-se morrer, como
um lírio no gelo,
Sem o doce luar dos
seus olhos de moiro...
Mas no instante
supremo, ambos crentes, temendo
Que a Morte os
separasse, em tão opostos céus,
Ele invocou Jesus,
cheio de fé, morrendo;
E a cristã murmurou:
«Alá! só tu és Deus!»
António Feijó
Portugal, Ponte de Lima
1859 – Suécia, Estocolmo 1917
in “ Sol de Inverno “
seguido de vinte poesias inéditas
Introd. Álvaro Manuel
Machado
Editor: Imprensa
Nacional-Casa da Moeda
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