Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

22 de novembro de 2015

Amaru: Poemas de Amor

ELE:
Quando embriagada pelo doce vinho
viu os arranhões de amor
que ela mesma me infligira
partiu ofuscada pelo ciúme
Tomando-a pela franja do se sari
detive-a... Como esquecê-la
quando me disse: «Deixa-me, deixa-me!»
olhando para trás
os olhos cheios de lágrimas
os lábios tremendo de despeito

O POETA:
Os amantes
arrastados pela torrente do seu amor
e contidos pelo dique
das pessoas mais velhas da casa
estão ainda juntos
mas não podem satisfazer os seus desejos
Imóveis como se tivessem sido pintados
bebem o néctar da paixão
com que os brindam os negros lótus dos seus olhos

ELA  A UMA AMIGA:
Quando o meu amante se deitou a meu lado
por si só se desprendeu o meu cinto
e mal suspenso da cintura
o vestido deslizou-me pelos quadris
É a única coisa que sei
pois mal senti o contacto do seu corpo
de tudo me esqueci:
de quem era ele
de quem era eu
de como foi o nosso prazer

ELE:
Esmagados contra o meu peito
os seus seios estremecem. Entre as suas coxas
flui a seiva doce do amor...
«Não, outra vez não... Deixa-me descansar...»
E aos sussurros sucedem-se
as súplicas e às súplicas os suspiros
e aos suspiros o silêncio...
Terá adormecido? Estará a agonizar?
Ou serei eu que estou a sonhar?



Amaru
Índia Séc. VII
Trad. Jorge Sousa Braga
in Rosa do Mundo – 2001 poemas para o futuro
Editor: Assirio & Alvim
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