De mãos dadas,
abraçados,
costas nas costas,
separados até que a morte volte a uni-los,
vão os amantes.
Vão de mãos dadas
para que toda a gente veja:
já não são apenas olhos que se dão,
já não são apenas dois rostos tranquilos.
De mãos dadas,
iludidos,
rastros da fome que a fome apagou,
abraçados,
eles seguem já mais secos que molhados,
desaprendendo os incêndios da paixão.
Abraçados e reinventados conforme cicios,
lamentos e sanções,
os amantes insistem,
costas nas costas,
aguardando uma mão decidida nas coxas,
sob a coberta onde os pés espreguiçam
o sono pesado do amor.
Acolá respiravam,
agora ressonam.
Nada.
Separados,
como se o amor tivesse desistido,
os amantes sedentarizam-se.
Já não vão.
Ficam parados,
até que a morte torne a uni-los,
atracados no sono,
no cansaço,
no hábito de buscarem nos livros
o que apenas encontram na carne.
Henrique Manuel Bento Fialho
Portugal, Rio Maior 1974
in Os dias do amor
Editor: Ministério dos livros
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