Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

28 de novembro de 2015

António Feijó: A resposta do árabe




















«De que país és tu?» -- A um árabe dizia
Sahid, filho d'Agbá, na estrada, ao fim do dia.

Era a hora em que o sol se fecha no Ocidente
Como o olhar moribundo e triste d'um doente.

E o árabe respondeu, banhado na piedosa
Claridade da luz, quase religiosa:

-- «Sou da raça que tem o excepcional fervor
D'amar eternamente e de morrer d'amor.» --

-- «Então és tu de Asrá.»-- acrescentou Sahid;
-- «Sim, por Caaba! Foi essa a tribo onde eu nasci.»

E de novo Sahid o interrogava atento:
-- «Por que motivo, pois, tão nobre sentimento

Nunca se muda em vós n'uma paixão nefasta? »--
O crepúsculo enchia o céu meio estrelado,
E o árabe tornou, como que iluminado:
-- «Porque a mulher é bela e a juventude é casta!»




António Feijó
Portugal, Ponte de Lima 1859 – Suécia, Estocolmo 1917
in “ Sol de Inverno “ seguido de vinte poesias inéditas
Introd. Álvaro Manuel Machado
Editor: Imprensa Nacional-Casa da Moeda
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