«De que país és tu?» -- A um árabe dizia
Sahid, filho d'Agbá, na estrada, ao fim do dia.
Era a hora em que o sol se fecha no Ocidente
Como o olhar moribundo e triste d'um doente.
E o árabe respondeu, banhado na piedosa
Claridade da luz, quase religiosa:
-- «Sou da raça que tem o excepcional fervor
D'amar eternamente e de morrer d'amor.» --
-- «Então és tu de Asrá.»-- acrescentou Sahid;
-- «Sim, por Caaba! Foi essa a tribo onde eu nasci.»
E de novo Sahid o interrogava atento:
-- «Por que motivo, pois, tão nobre sentimento
Nunca se muda em vós n'uma paixão nefasta? »--
O crepúsculo enchia o céu meio estrelado,
E o árabe tornou, como que iluminado:
-- «Porque a mulher é bela e a juventude é casta!»
António Feijó
Portugal, Ponte de Lima 1859 – Suécia, Estocolmo 1917
in “ Sol de Inverno “ seguido de vinte poesias inéditas
Introd. Álvaro Manuel Machado
Editor: Imprensa Nacional-Casa da Moeda
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