
é porque quero dormir
a bordo dos teus cabelos cristalizados
nunca chego a acordar
para não ver as horas a partir
Desimpeço as dedadas dos cânticos
nas tuas coxas a balouçar,
excito-me no lodo em brasas
e perco-me na arte que é penetrar
Nossos corpos metricamente suados
pousavam num cometa de que nunca tinha ouvido falar
voávamos cruzados em ácido benigno
os nossos sexos dançavam e cantarolavam
os navios numerosos
estavam indiferentes aos ruídos
as aves levavam tufos de lã
ao crepúsculo de mantos perdidos nos becos
Nas quilhas nasciam asas portáteis
os porões davam guarida às gotículas da humidade
feroz
que algazarra por lá vai, nem imaginam
é um outro mundo
Tu e eu fitávamo-nos mutuamente
com o êxtase em desordem.
O universo era só e só nosso.
Produzíamos um castrador prazer
No arfar das ondulações em movimento
despertámos um agudo gemido
e os orgasmos finalmente
tiveram de zarpar doridamente
numa mítica dimensão
Se chego
é porque quero dormir
a bordo dos teus cabelos cristalizados
nunca chego a acordar
para não ver as horas a partir
Filipe Marinheiro
Portugal (Coimbra) 1982
in Silêncios
Editor: Chiado Editora
photo by google
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