
Minhas mãos, rudes pastores
ávidas percorrem as suavíssimas colinas
de tuas ancas.
Como fremes! Águas inquietas
teu corpo ondeias e o louro tufo,
pondo olores de jardins em meu rosto
se alteia como o peito das gaivotas.
Tuas coxas abrem-se, vibram, e a tua carne
que penetro
me cinge com cílicios e flamas.
Canções e sedas se rompem.
Quase desmaias, com ternura e ânsia
cravas o luar dos dentes em meus ombros.
Sangras. Sangra a madrugada que nos
encontra enlaçados.
Embriagada pela manhã a terra se embebe
no esperma do sol. E meu aljôfar escorre
dentro de ti.
E arfo e grito ─ amor!
Estrelas nasceram em teus olhos e ao morrerem,
em breve,
deixarão sons de violetas em tuas pálpebras.
Silêncio. Silêncio de asas que pousaram.
Nossas pupilas, flores que caem, se apagam.
Milton de Godoy Campos
Brasil (São Paulo) 1927
in Antologia de Poetas Brasileiros
Seleção: Mariazinha Congílio
Universitária Editora
1 comentário:
Grande amigo e Pai. Quando ele, Milton, mostrou-se há vinte anos este poema, convulsionei-me em um choro de saudade por ela. Carlos Drummond -assim estava escrito no livreto- considerava este um dos poemas mais belos já escritos.
Milton era homem de grande perspicácia. Sabio. Acertivo. Vinicius, Quintana, Bandeira, Pound, T.S. Elliot, Holderlin, Stefan Zweig, Eric Axel Karfeldt, todos considerei pai. Mas tive um que me amou e me permitiu chama-lo: Pai.
Pai, te amo, onde quer que as nuvens o tenha levado.
Obrigado pela oportunidade rara.
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