Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

10 de janeiro de 2012

Quando o amor te chamar segue-o: Kahlil Gibran

Quando o amor te chamar segue-o,
embora os seus caminhos sejam duros e escarpados.
E quando as suas asas te envolverem entrega-te a ele,
ainda que a espada que se esconde entre as penas     
das suas asas te possa ferir.
E quando ele te falar acredita,
embora a sua voz possa desmantelar os teus sonhos
tal como o vento norte devasta o jardim.

Porque mesmo quando te coroa, o amor crucifica-te.
Tal como te faz crescer, também está lá para te podar.
Tal como se eleva à tua altura e acaricia os teus ramos
mais tenros que estremecem ao sol,
também desce as tuas raízes para sacudi-las
onde elas se prendem à terra.
Como a feixes de trigo, aperta-te contra si
malha-te até te deixar despido.
Passa-te pela joeira para te libertar das cascas.
Mói-te até ficares branco.
Amassa-te até te conseguir dobrar;
e depois partilha contigo o seu fogo sagrado, para que
possas tornar-te pão sagrado para
sagrado banquete de Deus.

Todas estas coisas o amor te dará para que
possas conhecer os segredos do teu coração,
e conhecendo-os te tornes parte
do coração da Vida.

Mas se, no teu receio, procurares apenas a paz
e o prazer do amor,
então é melhor que cubras a tua nudez
e saias do chão que o amor pisa,
para o mundo sem estações do ano
onde tu rirás, mas apenas parte do teu riso,
e chorarás, mas apenas parte das tuas lágrimas.

O amor não tem outro desejo senão realizar-se.
Mas se tu amares e necessariamente tiveres desejos,
deixa que sejam estes os teus desejos:
Fundires-te e seres como um ribeiro que corre e que
canta a sua melodia à noite.
Conheceres a dor do excesso de ternura.
Seres ferido pelo teu próprio entendimento do amor;
E sangrares voluntariamente e de bom grado.
Acordares de madrugada com asas no coração
e dares graça por outro dia de amor;
descansares ao meio-dia e pensares no êxtase do amor;
voltares para casa ao anoitecer com gratidão;
e depois adormeceres em prece por quem guardas
no coração com um hino de louvor nos teus lábios.

Kahlil Gibran
(Libano 1883-USA 1931)

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