Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

31 de janeiro de 2012

Beija-me minha amante, beija-me mais: Pierre Ronsard

Beija-me minha amante, beija-me mais, estreita-me,
bafo contra bafo, e aquece-me esta vida,
dá-me assim beijos mil e mais mil de seguida,
amor quer tudo inúmero, amor leis não aceita.

Beija e beija outra vez, ó boca tão perfeita,
porque te hás-de guardar, sendo eu em livor jazida,
pra beijar (de Platão a dama ou a valida)
sem coração, nem já imagem que deleite?

De teus beiços de rosa em vida me cobrindo,
balbucia a beijar-me, a boca entreabrindo,
mil sons a entrecortar, morrendo entre os braços.

Eu morrerei nos teus, e, ressuscitada,
eu ressuscitarei, juntamos nossos passos:
o dia mesmo curto é mais do que a noitada.

Pierre Ronsard
(França 1524-1585)
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