Anoitece
devagar.
No
terreiro,
Vão-se
os pares
Ajustando
para a dança.
─
Quem é que baila comigo?
Bailarei
eu!,
Grita
uma linda Maria
De
rosto largo e trigueiro.
E o
harmónio
Murmurando,
Dá
início ao movimento
Que é
todo ligeiro e brando.
Agora
─
Apertam-se
mais
Os
corpos
Nas
voltas lentas e bruscas
Da
toada musical.
Vá de
roda, quem mais ama?
Quem
mais quer ao seu benzinho?
Quem
mais ama mais padece;
Eu
hei-de amar poucachinho.
Ao
redor do bailarico
Já se
vai juntando gente
Que
andava um pouco dispersa;
E a
minha linda cachopa,
Balanceada,
Contente,
Parece
dada a um sonho...
─ Nem
eu sei o que ela sente!
Paro.
Mas o meu braço descansa
Nas
espáduas do meu par.
A
noite cobriu
De
sombras a natureza.
Ah!,
se eu pudesse cantar
─ E
dar luz aos corações!
Fico
a pensar e a olhar...
─ Já
se acenderam balões!
Foi
aquele moço! Aquele
Que
traz um cravo na boca
─
Escarlate
Como
a cinta
Com
que ele envolve os quadris.
E a
olhá-lo me ponho
Na
graça quente e flexível
Dos
seus aspectos viris.
Ai, a
vida!,
É tão
enganosa e fria,
Tão
outra da que nós temos,
Que é
bem melhor desejá-la
Como
coisa que flutua
Para
lá da que nós vemos...
Vamos
descansar ali...
Deixemos...
─
Digo ao par que me acompanha.
E
ouvindo a voz do harmónio,
E
contemplando
Esvaído
Os
pares em desalinho,
Sinto
a mesma sensação
De
ter bebido algum vinho.
António
Botto
Portugal
(Concavada, Abrantes) 1897
Brasil
(Rio de Janeiro) 1959
in
Canções e outros poemas
Editor:
Edições Quasi
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