Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

2 de fevereiro de 2012

Vieste tarde, meu amor: Nunes Claro

Vieste tarde, meu amor. Começa
Em mim caindo a neve devagar...
Morre o sol; o outono vem depressa,
E o inverno, finalmente, há-de chegar.

E se hoje andamos juntos, na promessa
De caminharmos toda a vida a par,
Daqui a pouco o teu amor tem pressa
E o meu, daqui a pouco, há-de cansar.

Dentro em breve, por trás das velhas portas,
Dando um ao outro só palavras mortas
Que rolam mudas sobre as nossas vidas,

Ouviremos, nas noites desoladas,
Tu, a canção das vozes desejadas,
Eu, o chorar das vozes esquecidas.

Nunes Claro
(Portugal 1878-1949)
photo by google

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