Em camisa amor fazer,
Se a nossa compincha quer
Estar tal qual deve ser
Expressamente se reclama
Curto véu a recortar
Coxa, perna, rabo, mama,
Grandes de mais prò seu ar;
Só se apartando o corpete
Em prol da cona divina
Prà função e prò minete,
Pois o resto é coisa indigna.
Visto isto serei franco:
A falta de proporções
Desse todo róseo e branco...
Há que tirar ilações!
Que ao jovem, esse, aproveita,
Prà beleza realçar,
(Neófito, ou já da seita)
Em toda a nudez amar.
Vede-me essa carne lídima,
Inteligente a vibrar,
Intrépida e também tímida,
Por grão dom sobrepujar
Toda a carne feminina
E a bestial - vero Belo! -
Essa graça que fascina
De ser múltiplo modelo,
Osso e músculo em jogo atleta,
Polpa firme e mole tecido,
Ele interpreta e completa
O sentir recém-nascido.
Vem-se, d'ira, a empertigar,
E tesa e mole, no ardor
De aprazer-se e prazer dar,
Tende e distende no amor.
E quando a morte a matar,
À carne que me soube a deus,
Há-de em mármor'azul fixar,
Nobre os elementos seus.
Paul Verlaine in Hombres e Algumas Mulheres
(França 1844-1896)
Foto Google
Sem comentários:
Enviar um comentário