Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

12 de fevereiro de 2012

Porque mais vale à mulher: Paul Verlaine

Porque mais vale à mulher
Em camisa amor fazer,
Se a nossa compincha quer
Estar tal qual deve ser


Expressamente se reclama
Curto véu a recortar
Coxa, perna, rabo, mama,
Grandes de mais prò seu ar;


Só se apartando o corpete
Em prol da cona divina
Prà função e prò minete,
Pois o resto é coisa indigna.


Visto isto serei franco:
A falta de proporções
Desse todo róseo e branco...
Há que tirar ilações!


Que ao jovem, esse, aproveita,
Prà beleza realçar,
(Neófito, ou já da seita)
Em toda a nudez amar.


Vede-me essa carne lídima,
Inteligente a vibrar,
Intrépida e também tímida,
Por grão dom sobrepujar


Toda a carne feminina
E a bestial - vero Belo! -
Essa graça que fascina
De ser múltiplo modelo,


Osso e músculo em jogo atleta,
Polpa firme e mole tecido,
Ele interpreta e completa
O sentir recém-nascido.


Vem-se, d'ira, a empertigar,
E tesa e mole, no ardor
De aprazer-se e prazer dar,
Tende e distende no amor.


E quando a morte a matar,
À carne que me soube a deus,
Há-de em mármor'azul fixar,
Nobre os elementos seus.


Paul Verlaine in Hombres e Algumas Mulheres
(França 1844-1896)
Foto Google

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