Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

12 de fevereiro de 2012

Não blasfemes poeta: Paul Verlaine


Não blasfemes poeta, e recorda-te, peço:
À fêmea é bom por certo, e merece uma foda,
Sem cu honra lhe presta, inda qu'obeso em toda,
E já o saboreei muitas vezes, confesso.


Esse cu (e o mamilo) oh, que ninho d'amores!
De joelhos e beijo e lambo o orifício;
Os dedos noutro poço afundo por ofício.
E os belos seios, quão devassos seus langores!


Na cama servirá ainda, esse cu meu,
De travesseiro, par doutros d'apoio os rins,
Qual mola de ressalto ao ventre, prós seus fins;
Entrar o homem mais na mulher qu'elegeu.


Nele repouso as mãos, braços pernas também.
E os pés - Tanta frescura, elástica e redonda,
Fizeram-no descanso ansiado, onde ronda,
Saltitante, o desejo, em ágil vaivém.


Mas pôr esse bom cu a par de um cu viril!
Gordo, prático, sim, mas não voluptuoso,
E o cu do homem, flor de estética e de gozo,
Dizê-lo frente àquela, apoucado e servil?!


" Mal está! "eis Amor clama. E diz a voz da história:
Cu de homem, o brasão de Hélade e ornamento
Quão divino de Roma, e mais divino alento
Da Sodoma final, mártir por sua glória.


Shakespeare vota Ofélia à sua sorte mais mofina,
Desdémona, Cordélia e todo o belo sexo,
Para em verso entoar (vexar-nos não tem nexo)
Um canto d'aleluia á forma masculina.


Do macho os Valois eram loucos; e agora,
A Europa emburguesada e assaz feminina
Ao próprio rei Luís da Baviera estima,
Rei virgem, coração que ao homem só adora.


A carne, enfim, e mesmo cada mulher proclama
Do soberbo Donzel, piça, cu, dorso e rosto;
Por isso, e como foi por Rousseau já proposto,
Convém poeta, ser-se um tanto " alheio à dama ".


Paul Verlaine in Hombres e Algumas Mulheres
(França 1844-1896)
Foto Google

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