Estão calmos o céu e a terra – mas não
adormecidos;
sem ânimo, como nós sob o efeito das
grandes paixões,
e tão silenciosos como se
despertássemos de profundos
pensamentos.
Estão calmos o céu e a terra; desde as
altas hostes
das estrelas ao lago tranquilo e às
margens montanhosas,
Tudo se concentra numa vida intensa
onde nem uma folha, uma brisa, um
reflexo se perdem,
pois todos são uma parte do ser, do sentimento
daquele que de tudo é Criador e
defensor.
Agita-se assim a emoção do infinito,
sentida
neste abandono em que o homem está
menos sozinho;
a verdade que em todo o nosso ser se
funde
e nos purifica de nós mesmos é um
acorde,
alma e fonte da música que nos ensina
a eterna harmonia, derramando um
encantamento
lendário, como a cintura de Vénus,
que reúne tudo pela beleza, e desafiaria
a Morte, se tivesse o verdadeiro poder
de destruir.
Não foi sem razão que os antigos
Persas edificaram
as aras nos mais elevados lugares, no
cume
das montanhas que contemplar a terra,
e assim
escolhem
um templo verdadeiro e sem muralhas,
onde encontram
o Espírito – e nunca em santuários que
as nossas mãos
constroem em seu louvor. Vinde então
comparar
colunas e altares de ídolos, góticos
ou gregos,
com os lugares sagrados da Natureza, a
terra e o ar,
e não vos confineis a templos que
limitam as vossas
preces.
O céu mudou-se – e que transformação!
Oh noite,
tempestade, trevas, sois surpreendentemente
fortes,
embora sedutoras no vosso poderio,
como o brilho
dos olhos sombrios duma mulher! Ao
longe,
de monte em monte, entre os ecos dos
rochedos
o trovão vibra. Não é duma única nuvem
que vem,
mas cada montanha encontrou agora a
sua linguagem,
e o Jura responde, com o seu manto de
neblina,
aos jubilosos Alpes, cujo apelo ressoa
vivamente.
Tudo chegou contigo – noite tão
gloriosa,
a que não se destinam os nossos
sonhos; deixa-me
partilhar
do teu violento, longínquo
encantamento
uma parte da tempestade e de ti mesma,
noite!
Ah, como resplandece o lago, um
fosfórico mar,
e a chuva é impelida e abate-se sobre
a terra!
Mais uma vez tudo é escuridão – e,
agora, a alegria
das colinas sonoras freme com todo o
excesso
que delas nasce como se fosse um novo
cataclismo.
…………………………………………………………………………
Se pudesse encarnar e tirar agora do
meu seio
aquilo que nele é mais profundo, se
pudesse cingir
com palavras estes meus pensamentos, e
assim exprimir
alma, coração, e espírito, paixões e
todos os
sentimentos,
ah, tudo o que poderia desejar, e
desejo,
sofro, conheço e sinto, sem que morra,
numa só palavra
- e que essa palavra fosse
“Relâmpago!” – eu a diria;
mas não, vivo e morro voltando para o
silêncio apenas,
com sufocadas vozes que guardo como
uma espada…
Lord Byron
Reino Unido (Londres) 1788- Grécia1824
in
“ Poesia Romântica Inglesa
Byron,
Shelley, Keats)
Editor:
Relógio D’água
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