
Sempre que no telefone
me falavas, eu
diria
que falavas de uma
sala
toda de luz
invadida,
sala que pelas
janelas,
duzentas, se
oferecia
a alguma manhã de
praia,
mais manhã porque
marinha,
a alguma manhã de
praia
no prumo do meio
dia,
meio dia mineral
de uma praia
nordestina,
Nordeste de
Pernambuco,
onde as manhãs são
mais limpas,
Pernambuco do
Recife,
de Piedade, de
Olinda,
sempre povoado de
velas,
brancas, ao sol
estendidas,
de jangadas, que
são velas
mais brancas porque
salinas,
que, como muros
caiados
possuem luz
intestina,
pois não é o sol
quem as veste
e tampouco as
ilumina,
mais bem, somente
as desveste
de toda sombra ou
neblina
deixando que livres
brilhem
os cristais que
dentro tinham.
Pois, assim, no
telefone
tua voz me parecia
como se de tal
manhã
estivesses
envolvida,
fresca e clara,
como se
telefonasses
despida,
ou, se vestida,
somente
de roupa de banho,
mínima,
e que por mínima,
pouco
de tua luz própria
tira,
e até mais, quando
falavas
no telefone, eu
diria
que estavas de todo
nua,
só de teu banho
vestida,
que é quando tu
estás mais clara
pois a água nada
embacia,
sim, como sol sobre
a cal
seis estrofes mais
acima,
a água clara não te
acende:
libera a luz que já
tinhas.
João Cabral Melo
Neto
(Brasil 1920-1999)
photo by Google
Sem comentários:
Enviar um comentário