Eu ontem
passei o dia
Ouvindo
o que o mar dizia.
Chorámos,
rimos, cantámos.
Falou-me
do seu destino,
Do
seu fado...
Depois,
para se alegrar,
Ergueu-se,
e bailando, e rindo,
Pôs-se
a cantar
Um
canto molhado e lindo.
O seu
hálito perfuma,
E o
seu perfume faz mal!
Deserto
de aguas sem fim.
Ó
sepultura da minha raça
Quando
me guardas a mim?...
Ele
afastou-se calado;
Eu
afastei-me mais triste,
Mais
doente, mais cansado...
Ao
longe o Sol na agonia
De roxo
as águas tingia.
«Voz
do mar, misteriosa;
Voz
do amor e da verdade!
- Ó
voz moribunda e doce
Da
minha grande Saudade!
Voz
amarga de quem fica,
Trémula
voz de quem parte...»
E os
poetas a cantar
São
ecos da voz do mar!
António Botto
Portugal, Concavada 1897 – Brasil, Rio de Janeiro
1959
in Canções e
outros poemas
Editor: Edições Quasi
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