Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

19 de outubro de 2015

Lu Xun: Mal de amores


























(Novos poemas satíricos feitos à maneira clássica)

A minha amada, lá longe, a meio da montanha.
Queria ir ter com ela, mas a montanha é tão alta!
Lágrimas de desespero molham-me a roupa.
A minha amada ofereceu-me um lenço bordado a borboletas.
Como fui eu retribuir com um mocho?
A partir de então deixou de me falar
Ai, ai, como eu estou desassossegado.

A minha amada, lá longe, no meio da cidade.
Queria ir ter com ela, mas é tanta a multidão!
Lágrimas de desespero molham-me as orelhas.
A minha amada ofereceu-me uma pintura: um casal de andorinhas.
Como fui eu retribuir com uma espetada de frutas cristalizadas
A partir de então deixou de me falar.
Ai, ai, como eu estou confuso.

A minha amada, lá longe, no outro lado do rio.
Queria ir ter com ela, mas as águas são tão fundas!
Lágrimas de desespero molham-me a camisa.
A minha amada ofereceu-me uma pulseira dourada.

Como fui eu retribuir com um antigripal?
A partir de então deixou de me falar.
Ai, ai, como eu estou deprimido.

A minha amada, lá longe, numa casa rica.
Queria ir ter com ela, mas não tenho carro!
As minhas lágrimas caem como a chuva.
A minha amada ofereceu-me um ramo de rosas.
Como fui eu retribuir com uma serpente?
A partir de então deixou de me falar.
Ai, ai... deixa lá.



Lu Xun
China, Shaoxing 1881 – China, Xangai 1936
Trad. Sun Lin e Luís G. Cabral
in Rosa do Mundo – 2001 poemas para o futuro
Editor: Assirio & Alvim
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