M. ***
Perguntas donde vem a timidez estranha,
Este quase terror com que te falo e escuto,
Como se a sombra hostil de uma grande montanha,
Que se erguesse entre nós, me cobrisse de luto.
Ignoras a razão deste absurdo respeito
Com que te beijo a mão, que estendes complacente,
--Fria do ardor que tens concentrado no peito,
Que mão fria é sinal de coração ardente.
E admiras-te de ver que os olhos baixo, e tremo,
--Se passas como um sol de planetas cercado--
Sem dar mostras sequer desse orgulho supremo
De quem se sente eleito entre todos, e amado!
Não podes conceber que uma paixão tão alta
Se vista de recato ou de pudor mesquinho...
Mas, se é sincero, o Amor só a ocultas se exalta,
Faz-se tanto maior quanto é discreto o ninho.
E tudo o que tu crês fingida gravidade
É uma íntima oblação, pois nas almas piedosas
O Verdadeiro Amor é feito de humildade:
Sobre o anel nupcial não à pedras preciosas.
António Feijó
Portugal, Ponte de Lima 1859 – Suécia, Estocolmo 1917
in “ Sol de Inverno “ seguido de vinte poesias inéditas
Introd. Álvaro Manuel Machado
Editor: Imprensa Nacional-Casa da Moeda
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