Quero-te às dez da manhã, e às onze, e às doze do dia . Quero-te
com toda a minha alma e com todo
o meu corpo, às vezes, nas
tardes de chuva. Mas às duas da tarde, ou às três, quando me
ponho a pensar em nós os dois, e tu pensas na comida ou no
trabalho diário, ou nas diversões que não tens, então ponho-me a
odiar-te em surdamente, com a metade do ódio que guardo para mim.
Depois volto a querer-te, quando nos deitamos e sinto que tu foste
feita para mim, que de alguma forma mo dizem o teu joelho e teu ventre,
que as minhas mãos me convencem disso, e que não há outro lugar
onde eu venha, onde eu vá, melhor que teu corpo. Tu vens toda inteira,
ao meu encontro e desaparecemos os dois por um instante, metemo-nos
na boca de Deus, até que eu te diga que tenho sono ou fome.
Todos os dias te quero e te odeio irremediavelmente. E há dias também,
há horas, em que não te conheço, em que me és estranha como a mulher
de outro. Preocupam-me os homens, preocupo-me comigo, distraem-me
as minhas penas. É provável que não pense em ti durante muito tempo.
Já vês. Quem poderia querer-te menos do que eu, amor meu?
Jaime Sabines
México, Tuxtla Gutiêrrez 1926 – Cidade do México 1999
in Qual é a tua ou a minha língua?
Editor: Assirio & Alvim
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