Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

13 de março de 2016

António Feijó: Folha de Salgueiro
























Adoro esta mulher moça e formosa,
Que à janela, a sonhar, vejo esquecida,
Não por ter uma casa sumptuosa
Junto ao Rio Amarelo construída…
– Amo-a porque uma folha melindrosa
Deixou cair nas águas distraída.

Também adoro a brisa do Levante
Não por trazer a essência virginal
Do pessegueiro que floriu distante,
No pendor da Montanha Oriental…
– Amo-a porque impeliu a folha errante
Ao meu batel no lago de cristal.

E adoro a folha, não por ter lembrado
A nova primavera que rompeu,
Mas por causa de um nome idolatrado
Que essa jovem mulher nela escreveu
Com a doirada agulha do bordado…
E esse nome… era o meu !



António Feijó
Portugal, Ponte de Lima 1859 – Suécia, Estocolmo 1917
in Rosa do Mundo – 2001 poemas para o futuro
Editor: Assirio & Alvim
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