Boa Noite
Boa noite, Maria! Eu vou-me embora,
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa noite Maria, É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.
Boa noite!... E tu dizes: - Boa noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito,
- Mar de amor onde vagam meus desejos.
Julieta do céu! Ouve... a calhandra
Já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira...
- Quem cantou foi teu hálito, divina!
Se a estrela-d'alva os derradeiros raios
Derramo nos jardins do Capuleto,
Eu direi, me esquecendo d'alvorada:
«É noite ainda em teu cabelo preto...»
É noite ainda! Brilha na cambraia
- Desmanchado o roupão, a espádua nua -
O globo de teu peito entre os arminhos
Como entre as névoas se balouça a lua...
É noite, pois! Durmamos, Julieta!
Recende a alcova ao trescalar das flores.
Fechemos sobre nós estas cortinas...
- São as asas do arcanjo dos amores.
A frouxa luz da alabastrina lâmpada
Lambe voluptuosa os teus contornos...
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
Ao doido afago de meus lábios mornos.
Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo atento!
Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e chora...
Marion! Marion!...É noite ainda
Que importa os raios de uma nova aurora?!...
Como um negro e sombrio firmamento,
Sobre mim desenrola teu cabelo...
- Boa noite! - formosa Consuelo!...
Castro Alves
Brasil (Bahia) 1847-1871
in Antologia da Poesia Erótica Brasileira
Editor: Lua de Papel
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