Ela está sobre a mesa -
nua
e fechada em si
como uma urna.
O elegante perfil convoca outras formas
para torná-la única:
pera, pêssego, abricô - o coração, afinal,
de onde irrigam a candura
e o aceno para afagá-la com duas mãos.
De modo que a boca quase treme
(hesitante entre beijá-la e mordê-la)
quando dela se achega
sem saber se se entrega ao domínio do cheiro
o à volúpia de lambê-la -
mesmo antes de (com unhas)
fender-lhe a pele vermelho-verde.
Ah, sulcar a carne macia com o arado dos dentes
deixando que nele se enrosquem os cabelos
que a fruta
(aflita)
não pode conter diante do torvelinho dos sentidos -
do cataclismo que o desejo encena
no afã de conhecer-lhe o rosto!
Sôfrego, salivo abocanhando a polpa
(esse manancial de sucos que me lambuza,
espirra, goteja e baba)
que chupo exaurindo a fonte dos deleites
dessa mulher que
por fim consentiu
(pudica e fogosa)
de a mim se entregar.
Maria Lúcia dal Farra
Brasil, 1944
in Antologia da Poesia Erótica Brasileira
Editor: Tinta da China
photo by Google
Sem comentários:
Enviar um comentário