Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

31 de maio de 2022

Zé da Luz: A Cacimba

 

Tá vendo aquéla cacimba
Lá na bêra do riácho,
Im riba da ribancêra,  
Qui fica, assim, prú dibáxo
De um pé de Tamarinêra?

Pois, um magote de môça,
Quáge toda menhãzinha,
Fóima, assim, aquéla túia,
Na bêra da cacimbinha
Tumando banho de cúia!

Eu não sei, pruquê razão,
As agua déssa nacente,
As agua qui alí se vê,
Tem um gôsto deferente
Das cacimba de bêbê...

As agua da cacimbinha
Tem um gosto mais mió
Nem sargáda, nem insôça...
Tem um gostinho do suó
Dos suváco déssas môça...

Quando eu vejoéssa cacimba,
Qui ispío a minha cara
E a cara torno a ispiá,
Naquélas águas quilára
Pégo logo a desejá...

... Desejo, praquê negá?
Desejo sê um caçote,
Cum dois óio dêsse tamanho!
Prá vê, aquêle magote
De môça tumando banho!!




Zé da Luz
Brasil, 1904-1965
in Antologia da Poesia Erótica Brasileira
Editor: Tinta da China
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