Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

12 de maio de 2022

Rupi Kaur, a maior parte da minha vida


a maior parte da minha vida passei-a
contigo, nós as duas a tocarmo-nos
pele com pele
as nossas noites juntas
e às vezes dias
pegaste em mim quando os meus membros se recusaram a fazê-lo
quando estava tão doente que não me conseguia mexer
nunca te cansaste do meu peso
nem uma só vez te queixaste 
foste testemunha de todos os meus sonhos
do meu sexo
da minha escrita
do meu choro
todos os atos vulneráveis da minha vida
foi contigo
as duas a rir à gargalhada
e quando louca por confiar num louco
fiz amor em cima de ti
deixei-te por uns dias só
para voltar de mãos vazias
sempre me recebeste
quando o sono me abandonava
ficávamos acordadas juntas
tu és o aconchego da minha vida
o meu altar
confessional
menina tornei-me mulher em cima de ti
e no final
serás tu - velha amiga
que me entregarás à morte bem descansada

- não há lugar mais intimo do que uma cama


Rupi Kaur
Índia, 1992
in corpo casa
Editor: Lua de Papel
photo by Google

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