Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

10 de junho de 2022

Guillermo Valencia: À Memória de Josefina


                       I

Do que foi um amor, uma doçura
sem par, feita de sonho e de alegria,
ficou apenas a cinza fria
que retém esta pálida cobertura.

A orquídea de fantástica formosura,
a borboleta na sua policromia
entregaram a sua fragância e galhardia
ao fado que fixou a minha desventura.

Sobre o olvido minha lembrança impera;
do seu sepulcro minha dor arranca;
minha fé reclama, minha paixão a espera,

e devolvo-a à luz, com essa franca
alegria matinal de primavera:
Nobre, modesta, carinhosa e branca!

                      II

Que te amei, sem rival, tu o soubeste
e o sabe o Senhor; nunca se liga
a erradia hera à floresta amiga
como se uniu teu ser à minha alma triste.

Na minha memória teu viver persiste
com o doce rumor de uma cantiga,
e a nostalgia do teu amor mitiga
minha pena, que ao ouvido resiste.

Diáfano manancial que não se esgota,
vives em mim, e à minha aridez austera
tua frescura se mistura, gota a gota.

Foste no meu deserto palmeira a crescer,
no meu pélago amargo, voo de gaivota,
e só morrerás quando eu morrer.




Guillermo Valencia
Colômbia, 1873-1943
photo by Google

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