Um filósofo dizia
A um seu amigo querido,
Que jamais compreendia
Como um amante queria
Sempre o gozo repetido.
-- «É um abuso! E eu sempre vejo
A mesma coisa gozada
Ter sempre maior desejo,
Pois se o beijo é o mesmo beijo,
O beijo não vale nada...
Onde está a novidade?
O que ontem foi, hoje é.
Falo com sinceridade:
Não compreendo a vontade...
Você que diz, seu José?»
Diz o outro: «-- Seu Raimundo,
Cada qual tem sua norma
de gozar por este mundo:
A mesma coisa no fundo,
É diferente na forma».
Guimarães Passos
Brasil, 1867-1909
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