Dona Boa sai à rua.
Faz um dia de garoa...
Que toilette! Quase nua
Dona Boa
Pisa de leve... tique taque...
Às vezes, nem pisa, voa...
Que assombro! Sempre em destaque
Dona Boa...
No Flamengo. Quando chega
e o chambre desabotoa,
para o trânsito. É uma grega
Dona Boa...
Espreguiça-se, arredonda
o corpo se aperfeiçoa.
E vai calmamente na onda
Dona Boa...
E sobe e desce... No arranco
da vaga se amontoa,
levanta um braço. Que branco
o braço de Dona Boa!
Toma chá no Renaissance,
com torradas de Lisboa...
Tão boa para um romance
tão Boa...
No cinema. A orquestra louca
Num rag-time se esboroa...
Ela abre um sorriso... Que boca
tem Dona Boa!
No Palace. O Cipriano
Fidalgamente abordou-a
e apresentou-nos: «Fulano
e Dona Boa...»
Fiquei frio. Deu-me a breve
mão; o meu lábio beijou-a.
Como é delicioso e leve
o cheiro de Dona Boa!
Disse eu logo um galanteio...
Riu num riso que atraiçoa.
Caía um lírio do seio
de Dona Boa.
Olegário Mariano
Brasil, 1889-1958
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