Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

4 de junho de 2022

Raul Bopp: ABISAG

 

Meu corpo é teu, senhor. Queres beijá-lo?
Por que colheste, no horto em que eu vivia,
meu corpo em flor de tâmara macia,
sem teres forças para machucá-lo?

Na excitação de um lúbrico intervalo
sinto ânsia de amor na boca fria
Senhor, não vens? Ai, como eu te amaria
nesse mesmo tapete em que eu resvalo.

Dói-me um desejo nessa estranha boda:
O ardor de ter num desvairado instante
alguém que possa machucar-me toda.

Os meus braços vazios já estão cansados.
Senhor, não queres o meu corpo arfante
que tem sabor de todos os pecados?




Raul Bopp
Brasil, 1898-1991
photo by Google

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