Eu penso muita vez em ti que já morreste,
Deliciosa mulher que tanto amei um dia
E que dormes agora em baixo do cipreste,
na funérea mudez da sepultura fria.
Em ti, por quem outrora ardente eu desfolhava
A grinalda de luz dos vívidos desejos,
E em derredor de quem famélico esvoaçava
-- Palpitante e febril -- o enxame de meus beijos.
E julgo ver então -- negra quimera informe --
Erguer-se do sepulcro em que teu corpo dorme
Uma ossada asquerosa, e vir oferecer-me
A meus beijos, um rosto esburacado, infecto,
Onde cevou-se a boca esquálida do verme...
-- E a um cadáver de amor, o amor de um esqueleto.
Vicente de Carvalho
Brasil, 1866-1924
photo by Google
Sem comentários:
Enviar um comentário