Carta de apresentação


O SECRETO MILAGRE DA POESIA

Sentimo-nos bem com seu contacto.
Disertamos sobre as suas maravilhas.
Auscultamos pequenas portas do seu mistério
e chegamos a perder-nos com prazer
no remoínho do seu interior.
Apercebemo-nos das suas fragilidades e manipulações.
Da sua extrema leveza.
Do silêncio de sangue e da sua banalização.

Excerto

in Rosa do Mundo

2 de junho de 2022

Pedro Nava: Episódio Sentimental

 
No terreiro tinha o mamoeiro só,
Na casa tinha a moça só.
E a moça era minha namorada...

A moça cantava
de dia e de noite.
Às vezes dançava...

Se os mamões eram verdes,
ela era verde.
Se os mamões eram amarelos,
ela era amarela.
Mas eu cogitava nos seios da moça...
Seriam tetas? Seriam mamões?
Estariam verdes? Estariam maduros?

Chegavam pássaros,
bicavam os mamões:
se estavam verdes, esguichavam leite
se estavam maduros, corria açúcar.
E nos seios da moça
ai! ninguém bicava...
Um era amarelo: teria açúcar?
Um era verde: teria leite? (Meu Deus, ela é virgem!)

O mamoeiro crescia,
a moça crescia,
meu amor crescia,
a moça dançava
e os seios subiam,
eu namorava
e os mamões caíam...

Os pássaros vinham,
os dias fugiam...

Ela dançou tanto que os seios caíram...
Seriam seios? Seriam mamões?

Depois o Bicho Urucutum comeu o mamoeiro...
Comeu de mansinho
o tronco e raízes,
os mamões e as tetas
(O Bicho Urucutum era enorme e vagaroso!)

Ela nunca mais dançou
eu nunca mais olhei,
nosso amor se acabou.




Pedro Nava
Brasil, 1903-1984
in Antologia da Poesia Erótica Brasileira
Editor: Tinta da China
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